10 julho 2007

O VINAGRE

O VINAGRE
(A Nossa Gente)

Se pelo nome Joaquim António da Costa Pereira ninguém sabe de quem falamos, se lhe disser que é o nosso amigo Vinagre já todos os penafidelenses sabem de quem se trata.

Esta sua alcunha de Vinagre foi herdada de seu pai Joaquim Pereira engraxador privativo do Café Imperial, na altura em que não havia café digno desse nome na cidade de Penafiel que não tivesse o seu graxa.

O Vinagre, é um toxicodependente característico não só pela sua maneira de andar como o seu modo de pedir.

Mal aponta na esquina da rua, com a sua passada longa e o seu andar com o corpo bamboleante dando-lhe ainda mais velocidade à passada, num abrir e fechar de olhos o Vinagre está à nossa beira a bater-nos nas costas para a respectiva cobrança.

A universidade da vida deu-lhe os conhecimentos suficientes para saber o que as pessoas aspiram numa sociedade que se rege mais pelo ter e não pelo ser das pessoas. Assim, também aplica o seu markting na pedincha chamando a todos de doutores.

- Ó senhor doutor não há aí uma moedinha?

E a malta que nunca fomos doutores de coisa alguma, escorregamos mediante esta técnica da pedir todos satisfeitos já que adquirimos um canudo por uma moeda.

Que se saiba, o nosso amigo Vinagre nunca assaltou ninguém, já que segundo ele mais vale pedir educadamente do que roubar.

Houve aí uns tempos que o vi mesmo em baixo e a dada altura desapareceu da cidade.

Decorria o ano de 2005 quando esteve internado quatro meses e meio no Hospital Joaquim Urbano no Porto.

Correu então o boato que tinha morrido, mas o tempo lá se encarregou de demonstrar que não passava disso mesmo, um boato. Quando reapareceu na cidade, o seu aspecto exterior era muito melhor, mas como a sua vigilância foi descuidada, não demorou muito tempo a tropeçar de novo nesse flagelo que se chama droga.

Pelo seu corpo já passou haxixe, cocaína e heroína mas actualmente é a metadona como forma de tratamento da sua toxicodependência.

Mas como dizia o Padre Américo, não há rapazes maus, e o Vinagre não foge a esta regra com o seu grande coração solidário. Por vezes, tem a humildade de no final do dia repartir o seu apuro (em géneros alimentares) com alguns colegas de ofício, quando estes não se safaram, matando-lhes assim a fome.

Evidentemente que estas pessoas que tropeçaram na droga, têm que ter muita força de vontade para mudar de vida e serem ajudadas a levantarem-se do chão, porque sem uma mão amiga não conseguem sair do lixo da sociedade, e se nada fizermos, dentro em breve, teremos que construir um aterro humano em cada recanto da cidade.