23 outubro 2007

O VINHO

O VINHO


  
No tempo em que ainda não se usava bufar ao balão, o ponto de encontro por excelência era a taberna. 

Aí, atrás de dois dedos de conversa, de um jogo de cartas ou dominó, lá se ia emborcando copos de três, ou canecas de litro. Geralmente entre o taberneiro e o freguês diário criava-se uma amizade e confiança mútua. 

Assim conheci duas casas de pasto ou adegas como lhe queiram chamar, em que havia uma certa familiariedade em que o próprio cliente entrava para a cozinha, se auto-servia da pipa e no final ditava de cabeça ao dono tudo que tinha comido e bebido para este fazer a respectiva conta.
 
Nas vésperas do S. Martinho quem desse uma olhadela a estes santuários do vinho, lá via o porco dependurado para mais tarde ser desmanchado e vendido em febras e rojões durante as feiras do dito santo. 

Para o forasteiro ter a certeza que a carne ali servida era fresca, à porta ficava a cabeça do animal enfeitada com um ramo de louro. Mas o que dá fama e valor à tasca é o vinho. Hoje tudo isto se perdeu e as que resistiram no tempo estão-se acafézando.

Em baptizados, comunhões, casamentos, aniversários ou simplesmente uma visita de um amigo, lá está ele a fazer as honras da casa. Mas longe vai o tempo em que o vinho dava de comer a um milhão de portugueses.

Sobre o vinho a sabedoria popular também se faz sentir, desde o "DECÀLOGO DO ABADE DE TRAVANCA" que reza assim: 

( O primeiro vai inteiro / o segundo até ao fundo / o terceiro como o primeiro / o quarto como o segundo / o quinto estando cheio não fica meio / o sexto para provar / o sétimo para começar / o oitavo para não tombar / o nono para continuar / o décimo para acabar ).

A PROVÈRBIOS como:

- Com melão vinho de tostão / - Vinho e amigo, o mais antigo / - Mulher que muito bebe, tarde paga o que deve / - Conselho de vinho, é falso caminho / - Quando o vinho desce, as palavras sobem / - Foge do mau vizinho, e do excesso de vinho / -Ninguém se embebeda, com o vinho da sua adega / - Com pão e vinho, já se anda caminho, e como durante a santa missa, o néctar da uva é transformado em sangue de Cristo, deu origem ao rifão: - Quem não gosta de vinho, não gosta de Deus! outros há que ligam, o santo ou santa ao ciclo do vinho, assim temos:

- Pela Santa Marinha, vai ver a tua vinha / - Pelo S. Matias, começam as enxertias / - Pelo S. Tiago, pinta o bago / - Pelo S. Lourenço, vai à vinha e enche o lenço / - Pelo S. Miguel, enche o tonel / - Pelo S. Martinho, prova o teu vinho.

A CANÇÕES:

( Numa casa portuguesa fica bem, pão e vinho sobre a mesa ) ou ( Era o vinho, meu Deus era o vinho! / Era a coisa que eu mais adorava! / Quanto mais o vinho corria, / Tanto mais minha sede aumentava! ) ou ainda ( Fernandinho vai ao vinho/ Quebra o copo pelo caminho / Ai do copo, ai do vinho / Ai do cú do Fernandinho).

E a FADOS como por exemplo:

( Eh! pá / Não fiques calado / Eh! pá / Canta lá o fado / O fado é assim meus senhores / O vinho da pipa a correr / Assim malcriado / E avinhado / É que o fado/ É fado a valer ) ou ( Vossa Merçê tem razão / É ingratidão falar mal do vinho / E a provar aquilo que digo / Vamos amigo a mais um copinho ).

E pronto, se o vinho não instrói nem induca, pelo menos dá inspiração, por isso vou dar de beber à dor que é o melhor, já dizia a Mariquinhas.