14 abril 2013

O POETA ANTÓNIO GEDEÃO



O POETA ANTÓNIO GEDEÃO
FALA DO HOMEM NASCIDO


Encontrando-se o compositor musical José Niza, a cumprir o serviço militar obrigatório em Zau Évua no Norte de Angola, recebe através do S.P.M. (Serviço Postal Militar), um livro escrito pelo poeta Rómulo de Carvalho (que se assina por António Gedeão), intitulado “Poesias Completas” para este musicar.

 
Agora, o isolamento da guerra, e as noites começam a ser passadas com uma viola, a vestir estes poemas com roupagens musicais.


Regressado da guerra, junta um naipe de intérpretes como Tonicha, Samuel, Carlos Mendes e Duarte Mendes que vão dar voz a estas canções, ficando a direcção de orquestra entregue a José Calvário.
Assim, em Novembro de 1972, vai nascer um dos melhores discos da música popular portuguesa o LP “Fala do Homem Nascido”. Já em 1998, a Movieplay faz uma reedição em formato CD do mesmo.


O disco é composto por 8 faixas.  

1 - ESTRELA DA MANHÃ
Cantam: Carlos Mendes, Duarte Mendes, Samuel e Tonicha
FALA DO HOMEM NASCIDO
Canta: Samuel
2- DESENCONTRO
Cantam: Samuel e Tonicha
3- TEMPO DE POESIA
Canta: Duarte Mendes
VIDRO CÔNCAVO
Cantam: Carlos Mendes, Duarte Mendes, Samuel e Tonicha
4- POEMA DA MALTA DAS NAUS
Canta: Samuel
LÁGRIMA DE PRETA
Canta: Duarte Mendes
5- POEMA DO FECHO ÉCLAIR
Canta: Duarte Mendes
6- CALÇADA DE CARRICHE
Canta: Carlos Mendes
7- POEMA DA AUTO-ESTRADA
Canta: Tonicha
8- POEMA DE PEDRA LIOZ
Canta: Samuel

De uma maneira geral, o disco é todo ele equilibrado, mas pela parte que me toca, gosto especialmente de dois poemas.

O primeiro é o “POEMA DO FECHO ÉCLAIR” que fala do Rei Filipe II de Portugal, que sendo ele o homem mais rico do planeta, já que era dono de Espanha e de Portugal d’aquém e d’além mar. 

Tinha tudo, tudo
sem peso nem conta,
bragas de veludo,
peliças de lontra.
Um homem tão grande
tem tudo o que quer.
O que ele não tinha
era um fecho éclair.

Que vamos ouvir na voz de Carlos Mendes.



O segundo, é o que dá o nome ao disco “Fala do Homem Nascido”, interpretado desta feita por Adriano Correia de Oliveira.

Venho da terra assombrada
do ventre de minha mãe
não pretendo roubar nada
nem fazer mal a ninguém

Só quero o que me é devido
por me trazerem aqui
que eu nem sequer fui ouvido
no acto de que nasci


É realmente incompreensível, que pérolas deste quilate, não passem nas rádios portuguesas, afinal de contas, difundir o nosso património musical mais valioso e qualificado, também devia fazer parte do tal “serviço público radiofónico”.

- Bom domingo!