26 fevereiro 2013

TEATRO NO CINE – CLUBE



TEATRO NO CINE – CLUBE
Nos anos 20 e 30



Entre o período de tempo compreendido entre o final da 1.ª Guerra Mundial e o começo da Guerra Civil Espanhola, ou seja os anos vinte e trinta do século passado, desenvolveu-se em Penafiel, grande actividade teatral. 

Havia vários grupos cénicos em actividade, entre eles, o Grupo Cénico Arrifana Alegre, o Alegria de Penafiel e o Marte.

Estes grupos cénicos, já não actuavam no Recreatório, mas sim no Cine-Clube, que mais tarde deu lugar ao Cine-Teatro S. Martinho, também este já desaparecido.

Fachada do Cine- Clube ou Salão Teatro

O Grupo Cénico Arrifana Alegre

Foi fundado em Janeiro de 1923 por: António Madureira, German Iglésias, Alferes Maias Meiras, Joaquim Carvalho, José Marques, José M. Carvalho e Manuel Vila Pouca.

Levou à cena as seguintes revistas:

1923 – Penafiel por dentro – letra de António Madureira e música de Maias Meiras, e cenários de German Iglésias. 

1924 – Penafiel por fora – dos mesmos.

1925 – Bisnagas e Confetis – letra de Domingos Vilela, música de Maias Meiras, cenários de German Iglésias.

1926 – Ora é o caso – dos mesmos.

1927 – Sem pés nem cabeça – Letra de Domingos Vilela, música de Álvaro de Sousa, cenários de German Iglésias.

1928 – Está bem assim… - dos mesmos.

1930 – Espigas e Massarocas – Letra de Arnaldo Passos, música de Álvaro de Sousa, cenários de German Iglésias.

1931 – Nem tanto ao mar – dos mesmos.

1932 – À Vara Larga – dos mesmos (12 representações).

1932 - Senhor Roubado – Obtendo no Cine-Clube gerais aplausos, e tendo 4 representações. 
      
1933 – Deixa correr – dos mesmos.

1934 – Feira Anual – dos mesmos.

Este grupo visitou com notável êxito: Cete, Lousada, Felgueiras e Lamego.
Actores que se destacaram – Nemis e Natália Iglésias, Alice Couto, Irene Marques, Alzira Dias, Rita Almeida, Elsa Dias, Irene Oliveira, José Marques, Joaquim Carvalho, José Carvalho, Boaventura Beça, Manuel Carvalho, Manuel V. Pouca, Belmiro Guedes e Manoel Almeida.

Miúdos que brincavam no átrio do Cine-Clube

Grupo Cénico Alegria de Penafiel

Fundado em Janeiro de 1931por Domingos Vilela, José Carvalho, Joaquim Carvalho, Edgar Fonseca, José Vasconcelos Mesquita e Boaventura Beça.
Representou as seguintes revistas:

1931 – A Olho Nú – letra de Ernesto de Melo e Domingos Vilela, música de Júlio Pontes e Manuel Ferreira, cenários de Domingos Vilela.
 
1932 – Quentes e boas – letra e cenários de Domingos Vilela, música de Manuel Ferreira.
Dissolveu-se em fins de 1932.

Escadaria do Cine - Clube
Grupo Cénico Marte

Este grupo, foi constituído por sargentos de Infantaria 6, e fundado em Janeiro de 1932 por: Manuel de Deus Loura, José Simões da Silva Júnior, António Rocha, António N. Guimarães, José Teles de Menezes e Otelo Larangeira.  

Representou as seguintes peças:

1933 – Ceia dos Generais – Letra do Tenente Coronel Belizário Pimenta, e “O Filho da República” operêta.

1934 - Entre Duas Avé-Marias – opereta – de E. Donato.
Em 1933 visitou Felgueiras, e em 1934 Lamego e Vila Real, colhendo os mais extraordinários aplausos nessas cidades.
Figuras que se destacaram:
D.D. Conceição Loura, Zulmira Iglésias, Irene Oliveira, Manuel R. Mendes, Simões Júnior, M. Loura, M. Machado, Gui Falcão, Otélo Larangeira, Acácio Rocha e A. Calatré.
O cenógrafo deste grupo é German Iglésias.

1935 – Operêta “O Segredo do Fidalgo” de D. Sara de Melo, e música do Tenente Pereira de Sousa. A estreia foi a 9 de Abril.
O Ponto estava a cargo de António Guimarães.

24 fevereiro 2013

ATÉ SEMPRE ZECA



ATÉ SEMPRE ZECA



No dia 22 de Fevereiro, na Biblioteca Municipal de Penafiel, foi prestada uma homenagem a José Afonso. 

Carlos Andrade, José Silva e João Teixeira.

Carlos Andrade, João Teixeira e José Silva, cantaram canções do Zeca Afonso.

Infelizmente canções como os Vampiros estão tão actuais nos tempos que correm, como quando Zeca as escreveu.

Grândola Vila Morena é a canção eleita pelos indignados para receberem ministros e primeiro-ministro como forma de mostrarem a sua revolta, e foi com Grândola cantada de pé e em uníssono que encerrou esta homenagem ao Zeca.

Agora até os nossos vizinhos espanhóis a cantam, como forma de protesto.


Também foi recordado Adriano Correia de Oliveira, na Trova do Vento que Passa na voz de João Teixeira.

Quanto à poesia esteve a cargo de Lurdes dos Anjos. 

Lurdes dos Anjos declamando poesia.

Entre os vários poemas declamados, um de Hélia Correia:

Só Assim Será Poema. 

”Que o poema tenha carne
ossos vísceras destino
que seja pedra e alarme
ou mãos sujas de menino.
Que venha corpo e amante
e de amante seja irmão
que seja urgente e instante
como um instante de pão.

Só assim será poema
só assim terá razão
só assim te vale a pena
passá-lo de mão em mão.

Que seja rua ou ternura
tempestade ou manhã clara
seja arado e aventura
fábrica terra e seara.
Que traga rugas e vinho
berços máquinas luar
que faça um barco de pinho
e deite as armas ao mar.

Só assim será poema
só assim terá razão
só assim te vale a pena
passá-lo de mão em mão”


Cantado nos anos 70, por José Jorge Letria


Enquanto “As Portas Que Abril Abriu” como escreveu Ary dos Santos, e que depois do 25 de Novembro de 1975, paulatinamente foram-se fechando, e as poucas que continuam abertas estão voltadas para becos sem saídas, cada vez faz mais sentido estes cantos livres.

Resta-me agradecer a todos que tornaram possível este desfiar de canções e poemas de Abril, pois apesar dos ventos serem adversos, há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz não.

Nesta foto pode-se ver a  urna de José Afonso, a ser transportada aos ombros de Francisco Fanhais e José Mário Branco.

No dia 23 de Fevereiro de 1987, a morte saiu à rua. Este ano, faz 26 anos que José Afonso morreu, em Setúbal, aos 57 anos, vítima de esclerose lateral amiotrófica.

Ontem como hoje

'Eles comem tudo, e não deixam nada...'
E já nem esperam pela 'noite calada'.
É à luz do dia e de cara descoberta...
Malditos 'Vampiros'!

E como “Somos Filhos da Madrugada”, “O Que Faz Falta” é avisar a malta.

Até sempre, Zeca. 


Bom domingo!
Fotos cedidas por: Napoleão Monteiro

19 fevereiro 2013

O TEATRO PENAFIDELENSE



NO RECREATÓRIO NASCEU O TEATRO PENAFIDELENSE

Recreatório de frente à Igreja Matriz

Quando daquela casa que nós conhecemos por Recreatório, saiu o hospital e o albergue para o extinto convento de Santo António dos Capuchos, por iniciativa do então provedor Zeferino Máximo da Silva Pereira, começou-se a pensar transformar este espaço num templo de Arte.

Depois de arrendada a casa à Santa Casa da Misericórdia de Penafiel, deitou mãos à obra o Dr. Rodrigo de Beça, homem conhecido no mundo das letras pelo pseudónimo de Padre Serapião d’ Algures.

Com o começo das obras materiais, deu-se início à elaboração dos estatutos da Sociedade Phylo- Dramática Penafidelense, em cujo 2.º artigo dos mesmos, estabelecia que a selecção das peças dramáticas só poderia recair sobre aquelas que reunissem a mais sólida moral, e que fossem indiferentes às opiniões políticas do país. 

Ficando desta forma, assegurado a perversão dos costumes que avassalam as sociedades modernas.

A única actriz que fazia parte do grupo, era a senhora dona Emília Augusta das Neves, pelo que havia quem se apresentava em cena com o travesti de mulher, quando era preciso como era o caso do Dr. Coriolano de Freitas Beça, mas também o irmão padre Alfredo, como o padre José Carlos e ainda o padre António Ferreira que foi empolgante orador e morreu com visos de santidade.
Nas noites de espectáculo os camarotes e a plateia regurgitavam de espectadores, onde marcava presença as famílias mais distintas da sociedade de então.

As damas sabiam imprimir todo o requinte de elegância, deixando entontecer com a magia dos seus sorrisos, que se lhes desabrochavam das almas puras em nimbos de luz celeste, os peraltas que em êxtases as contemplavam.

No ano de 1844, nascia o pequeno Teatro Penafidelense.

Porta de entrada no Quelho do Abade

O palco nesse tempo ficava do lado da Rua Direita, sendo a entrada das damas e cavalheiros pelo carreiro do Quelho do Abade, que sempre que havia representação, era iluminado por candeeiros para evitarem tropeços ao longo do seu piso irregular e incómodo, enquanto os actores e actrizes entravam pela porta principal, ao contrário de quando nós o conhecemos. 

A obra - mater do teatro histórico português Frei Luís de Sousa, esse drama que Almeida Garrett escreveu em 1843, foi levada à cena pela Sociedade Phylo-Dramática Penafidelense no dia do Corpo de Deus de 1854, ou seja a 15 de Junho, sendo muito aplaudida.

Vitorino Costa no papel de Romeiro, e com tal arte e relevo proferiu aquele célebre “Ninguém”, com que responde a Frei Jorge Coutinho, apontando o bordão para o retrato de D. João de Portugal, que a plateia aplaudiu calorosamente de pé.

No final de cada apresentação, em todos os lábios brincavam sorrisos e em todos os olhares se repercutia um estado de alma de inefável contentamento. 

A Sociedade Phylo-Dramática Penafidelense parece haver declinado em 1854, porquanto em Novembro desse ano, o conselheiro Luís Venâncio Carneiro de Vasconcelos, Rodrigo Xavier Pereira de Freitas Beça, José Feliciano Vaz Pinto de Veiga e a Comissão Administrativa do Teatro Penafidelense, requereram à Santa Casa da Misericórdia a desobrigação de pagamento de renda que sobre ele incidia da importância de oito mil reis, tomado de trespasse a João José Barbosa, primitivo foreiro o que a respectiva Mesa deferiu em sua sessão de 20 de Novembro, resolvendo por a casa do Teatro novamente em praça para ser arrendada a quem por ela, mais desse.

A resolução tomada foi entregar a casa à senhoria, que era a Misericórdia.

Recreatório nos dias de hoje.

Regressado do Brasil em 1855, João Alves de Almeida Araújo, natural desta cidade, iniciou em 1857 a reconstrução do teatro (Recreatório), que passou a ser como hoje o conhecemos, com o palco do lado do quelho, e a entrada dos espectadores a ser feita pela porta virada para a igreja Matriz.

Para acudir às despesas com a reforma do teatro, emitiram-se acções de dois mil reis, sem juro, que muitos subescritores tomaram sem outro interesse que o de verem realizado um projecto que a todos igualmente animava. Com o mesmo objectivo realizou-se um espectáculo com o drama “O Homem de Mármore”.

Logo que foram concluídas as obras, houve espetáculo de gala com a peça “O Cativo de Fez”.

Interior do Recreatório

E assim nascia a Sociedade Dramática Penafidelense, com novos estatutos, elaborados pelos seus mentores, Sebastião Pereira de Almeida Borges, Joaquim Pacheco Ribeiro Nunes, Bernardino José de Melo, Abílio Aires Freitas Lobo e Beça e Maximiano Dias de Castro.

É com esta Sociedade Dramática Penafidelense, que se vai passar um diferendo com o Administrador do Concelho e o público do teatro retratado nesta caricatura.

Caricatura do diferendo entre o Administrador e o público.

Nem sempre a malfadada política se conservou estranha a estes divertimentos. Assim o comprova o documento que segue, originado por uma violência da autoridade administrativa, proibindo o espectáculo de 1.º de Dezembro de 1861. É um protesto dirigido ao Governador Civil, do Porto, no qual é narrado o incidente com os precisos pormenores.

A V. Ex.ª como autoridade superior do Distrito recorre a reputação composta dos abaixo assinados, e encarregada pelos sócios do teatro particular de Penafiel, de pedir justiça e reparação contra o abuso de autoridade, praticado pelo Administrador D. Miguel Vaz Guedes d’Athaíde Malafaia Júnior no dia 1.º do corrente.

A direcção do teatro havia destinado a noite deste dia para dar uma récita, e com a devida antecipação anunciado a representação aos sócios da cidade, e de fora.

À última da hora (cinco da tarde), procurou o Administrador dois sócios da direcção e disse-lhes:

- que constando-lhe que tencionavam representar à noute, era sua opinião adiar-se a representação, porque não tendo a câmara celebrado ainda as exéquias pela morte do Rei, não podia consentir em semelhantes demonstrações de regozijo público.

Depois de algumas considerações dos dois membros da direcção, ponderando-se, que depois de haverem cessado os efeitos da portaria de 12 de Novembro, e achando-se abertos todos os teatros públicos, não viam que houvesse lei, nem mesmo motivo plausível, para que se proibisse uma representação particular; a isto porém retorquiu o Administrador, concluindo:
- Que em todo o caso proibia que se representasse, mas que estivessem certos que o não fazia por vingança, ou acinte. 

Quando mesmo a direcção não pretendesse recalcitrar, a ordem do Administrador a despeito da inconveniência do modo como procedia, decerto que já não tinha tempo de mandar contra-aviso aos assinantes; e nesta impossibilidade resolveu fazer abrir o teatro à hora indicada, esperar os assinantes e aí em assembleia geral comunicar-lhes o acontecido.

Correra a notícia da proibição; porém um grande número de espectadores apareceram à hora marcada para o início do espectáculo.

À porta principal do teatro, encontrava-se o Administrador do Concelho, sem insígnia alguma de autoridade, mas com toda a força do destacamento de caçador N.º9, estacionado nesta cidade, comandado pelo subalterno Barros, comparecendo pouco depois o capitão Tavares para vedar, como efectivamente vedou, a entrada tanto às senhoras como aos homens, que não fossem actores, ou empregados em qualquer serviço do teatro.

Foi então, que um dos assinantes em nome de talvez quatrocentas pessoas, que ali se encontravam, estranhando tão insólito proceder, pediu ao Administrador explicações de um acto, que não podia deixar de considerar-se um abuso inqualificável da autoridade.

O Administrador respondeu:

“-Não proíbo o espectáculo, mas vedo a entrada aos espectadores: não tenho de dar contas de uma medida de polícia senão ao meu superior; e intimo-os para que retirem e dispersem, para o que empregarei a força até ao extremo:- a lei sou eu!!! “

O mesmo assinante, que o interrogara, depois de haver verbalmente protestado contra semelhante acto, convidou a que todos se retirassem, o que todos fizeram.

Peço a V. Exª que com toda a imparcialidade, aprecie o acontecido no que foi, e no que poderia ser, se a prudência e a moderação não fosse tanta da parte dos circunstantes, quando da parte da autoridade foi a provocação e o insulto, defira como julgar de justiça.
Penafiel 10 de Dezembro de 1861

Devido a políticas culturais erradas, que vários executivos camarários foram adoptando, é com imensa mágoa, que nos dias que correm, em pleno século XXI, constatamos que Penafiel não tem casa de Teatro, e o Recreatório se encontra em degradação.