26 fevereiro 2014

O HINO DA SANTA CASA DA MISERICÓRDIA



O HINO
DA SANTA CASA DA MISERICÓRDIA
NA FESTA DA
VISCONDESSA DE FRANCOS


No dia 11 de Janeiro de 1948, teve foros de grandiosidade, a festa realizada no Hospital da Misericórdia de Penafiel, em que se prestava homenagem à venerada senhora Viscondessa de Francos.

Neste domingo chuvoso e triste, foi inaugurado um pavilhão que ficará com o seu nome e o seu retrato.

A gratidão foi e será sempre compreendida por todos os penafidelenses como bem o demonstrou o povo anónimo que compareceu nesse dia, em agradecimento à Viscondessa de Francos, pelo valioso donativo de cem mil escudos que entregou a esta instituição.


A festa começou com uma missa rezada na Igreja da Misericórdia pelo vigário da vara, reverendo Luciano Ferreira de Sá, em representação do venerando bispo da diocese, por todos os irmãos, amigos e benfeitores do Hospital.


Seguidamente organizou-se o cortejo que se dirigiu ao salão nobre do Hospital onde teve lugar a sessão solene na qual fizeram uso da palavra os srs. Vitorino Coelho da Silva (Presidente da Comissão Administrativa da Santa Casa da Misericórdia de Penafiel), Dr. Fernando Cochofel Teixeira Dias (amigo íntimo da família Baltar), Afonso Henriques de Sobral Mendes (Presidente da Câmara de Penafiel), Dr. Gaspar Ferreira Baltar (irmão da Viscondessa e em representação desta), Ovídio Lobo (Director Escolar do Porto), e por último o Ex.mo Governador Civil do Porto, Dr. Antão Santos da Cunha, sendo todos os discursos cheios de entusiasmo e em que foi focada a caridade e postas em relevo as qualidades e virtudes da senhora Viscondessa de Francos e toda a família Baltar. 

Os discursos foram retransmitidos ao público, por uma excelente aparelhagem de som, da “Electrificadora Penafidelense”, que gentilmente colaborou na festa.

No final, a menina dona Rosalina Brandão Rodrigues dos Santos recitou com singular encanto o inspirado Hino da Misericórdia, propositadamente escrito pelo dedicado e ilustre penafidelense, professor Cipriano Barbosa e musicado pelo Reverendo José Guilherme da Silva Lopes.

Sob a direcção musical do Reverendo Manuel da Silva Nunes, capelão do hospital, foi entoado, em primoroso conjunto de vozes, pelas meninas do asilo, o Hino referido.

Hino da Santa Casa da Misericórdia

Salve! Salve! Casa Santa,
Santa Casa divinal!
A tua bondade encanta
Qual candura lirial.

Fonte de graça e de luz,
Para todos tens carinhos
És como o doce Jesus
Que nem esquece os passarinhos.

Lar de prantos e de dores,
Onde não brilha alegria!...
O céu tem as suas cores,
Vejo nuvens que não via.

Sorrisos de Fé, d’Esperança
São hinos de querubins
A subir, mística aliança!
Almas simples e jasmins.

Cante a flor dos verdes prados,
A fonte e o roble ancestral…
Parem carros e arados…
Saudemos o hospital!

Fé, Esperança e Caridade
O grande livro imortal…
Bíblia d’ouro da cidade…
Saudemos o hospital!

A festa foi abrilhantada pela Banda de Música de Paço de Sousa, e terminou com o descerramento dos retratos da bondosa Viscondessa de Francos e do seu excelentíssimo irmão Dr. Gaspar Ferreira Baltar.


A partir desta data, a Santa Casa da Misericórdia de Penafiel tem o seu Hino, que mais não é do que uma verdadeira exaltação à Caridade para com os mais carenciados, e nestas coisas não basta só cantá-lo, é preciso também nos dias difíceis que correm, fazer jus à sua letra, caso contrário, o Hino não passa de mais uma cantilena para inglês ver, o que francamente, creio que não é o caso com o actual provedor Júlio Manuel Mesquita, que escolheu como sua divisa: 

“PRIMEIRO O UTENTE”.

23 fevereiro 2014

LEMBRAR O ZECA



LEMBRAR O ZECA


Neste dia 23 de Fevereiro de 1987, desapareceu de entre nós Zeca Afonso com apenas 57 anos de idade. 

Era um homem simples e solidário, pois poucos devem saber que em 1969 rejeitou um convite do espanhol Joaquim Diaz, para participar num festival em que estariam presentes Joan Baez e Bob Dylan entre outros, mas o Zeca preferiu estar com os estudantes em Coimbra em plena crise académica.

Nunca aceitou ser medalhado pelos coveiros de Abril.

Primeiro pelo Presidente da República, general Ramalho Eanes, que lhe atribuiu a Ordem da Liberdade, mas o cantor recusa-se a preencher o formulário, e em 1994, Mário Soares, tentou condecorá-lo com a mesma medalha (já a título póstumo), mas a mulher Zélia, recusou, alegando que se José Afonso não desejou a distinção em vida, também não seria após a sua morte que seria condecorado.

Parte final do concerto no Coliseu em Lisboa

As últimas aparições ao vivo de José Afonso, montam ao ano de 1983.


Primeiro num concerto no coliseu em Lisboa no dia 29 de Janeiro, gravado pela RTP.

No entanto o último concerto do Zeca foi o que se realizou no dia 25 de Maio de 1983 na cidade do Porto, organizado por Avelino Tavares, promotor musical da revista “MC” Mundo da Canção. Pena foi que este concerto não tivesse direito a filmagem ou simplesmente a um registo sonoro.

No dia seguinte ao concerto Zeca Afonso e sua mulher Zélia seguem de comboio para Coimbra, para este receber a medalha de honra da cidade. 


O autor da proposta de atribuição da medalha de ouro da cidade ao cantor José Afonso, foi António Portugal e aceite por unanimidade pela Assembleia Municipal de Coimbra.


Entre guitarras de fado e estudantes de Coimbra, no dia 27 de Maio no Jardim da Sereia, Zeca agradece a homenagem e o Presidente da Câmara Municipal de Coimbra, Fernando Luís Mendes Silva, no final da sua intervenção diz o seguinte:

“A cidade de Coimbra, a tua cidade, em momento de gratidão bem alto, concedeu-te a medalha de ouro com que distingue os seus vultos mais ilustres.

Bem a mereceste, pois fazes parte da sua história por direito próprio.

Perdoa o meu orgulho e o meu desvanecimento, mas nem imaginas a felicidade que vai em mim.

Obrigado Zeca

Volta sempre. A casa é tua”.

Não quero converter-me numa instituição, embora me sinta muito comovido e grato pela homenagem, respondeu José Afonso.

Desta última aparição em público, e à revelia do autor, é publicado pelo Foto Sonoro o maxi-single “Zeca em Coimbra”, disco raro e que por vezes nem consta de algumas discografias da obra do autor.


Este disco “Zeca em Coimbra” conta com a participação dos cantores Luis Marinho, António Bernardino, dos guitarristas António Portugal, António Brojo e dos violas Aurélio Reis, Luis Filipe e Rui Pato, e fazem parte as canções: “Trás Outro Amigo Também”, “Tenho Barcos Tenho Remos”, “Dueto Concertante” e “Saudades de Coimbra” cantada pelo Zeca Afonso, e é com ela que vamos ficar neste domingo. 

Para terminar, só queria dizer que José Afonso foi um símbolo vivo de luta contra o fascismo, e um homem de uma verticalidade ímpar em defesa de Abril, usando como arma a palavra.


Bem sei que este texto não é por vezes o politicamente correcto, pelo que haverá quem goste e quem não goste, porque ontem, hoje e amanhã, os desalinhados sempre causaram incómodo.



- Bom domingo!

19 fevereiro 2014

A HISTÓRIA DA CASA E DO SEU BRASÃO



A HISTÓRIA DA CASA
E DO SEU BRASÃO


Nos meus passeios matinais, muitas vezes calcorreio a Rua do Cavalum, rumo ao Parque da Cidade, e deparo com uma pequena casa de aspecto rural com um brasão voltado para a rua na esquina da mesma.

Andava-me a matraquilhar na cachimónia, como uma casa tão humilde ostentava um bonito brasão.


A resposta foi-me dada pelo historiador penafidelense Simão Rodrigues Ferreira, nos seus apontamentos para a história topográfica de Penafiel.

Este brasão estava colocado no prédio que serviu de Paço quando Penafiel tinha bispado, e que pertencia a uma senhora da família dos Beças d’Arrifana. 

Casando esta senhora com um dos de Barbosa, colocaram as suas armas no cunhal da casa, a banda do poente.

Quando foi comprada a casa para residência do bispo, as armas desta família foram apeadas, e o sr. dr. José Pereira Monteiro, alegando parentesco com os tais Beças, e obtendo-as, as colocou na sua quinta do Cavalum onde existem no cunhal da casa.

Esta quinta, presumivelmente por questões de partilhas, foi dividida, e a parte correspondente à casa onde se encontram as armas de Beças e Barbosa, é actualmente chamada de Quinta do Laranjal.


Interpretação destas armas:

Partidas de Beça e de Barbosa. Timbre do primeiro apelido. Elmo de grade.

Beça – De oiro, com três faixas de vermelho, bordadura do mesmo carregada de dez crescentos de prata.

Timbre – De um lobo sainte de vermelho, carregado dum crescente de prata na espádua.

Barbosa – De prata com uma banda de azul carregada de três crescentos de oiro, e ladeada de dois leões afrontados e trepantes de púrpura.

Timbre: Um leão sainte de púrpura.

António de Azevedo Melo e Carvalho

Segundo ainda Simão Rodrigues Ferreira, nesta casa, nasceu em 11 de Maio de 1795, o conselheiro António de Azevedo Melo e Carvalho, que foi de facto, uma notável figura pátria.

Formou-se em direito na Universidade de Coimbra em 1817.

Exerceu vários cargos da magistratura no Brasil e o de juiz da Relação de Lisboa, sendo depois presidente da mesma.

Antes de ser ministro do reino, teve igual cargo na justiça e, ainda antes, juiz de fora de Coimbra. Pertenceu também ao Supremo Tribunal de Justiça.

António de Azevedo Melo e Carvalho notabilizou-se pela emissão da Portaria de 8 de Novembro de 1847, que determinou que em todos os concelhos as respectivas Câmaras Municipais elaborassem um livro especial, denominado "Anaes do Município".


Teor da portaria:

“Sua majestade a Rainha há por bem ordenar que, em cada uma das câmara municipais dos concelhos do reine, e ilhas adjacentes, haja um livro especial com a denominação de “Anaes do Município”, no qual anualmente se consignam os acontecimentos e os factos mais importantes que ocorrerem, e cuja memória seja digna de conservar-se; as descobertas de riquezas, substâncias e combustíveis minerais; o aumento ou diminuição da produção agrícola e as causas; a longevidade das pessoas de que houver notícia, com a declaração do modo de vida que tiveram e do seu alimento habitual; as acções generosas e os nomes de seus autores, que mereçam ser transmitidas às gerações futuras; e, finalmente, tudo quanto possa interessar às tradições locais. Para este fim quer sua majestade, que os presidentes das municipalidades, nomeiem comissões compostas de alguns vereadores e vogais de concelho municipal que forem julgados mais aptos, a qual, em todos os anos no princípio do mês de Março, e depois das reuniões necessárias, redigirá uma memória que contenha as notícias e esclarecimentos acima indicados; e sendo lançada em letra bem legível no referido livro, que se guardará cuidadosamente no arquivo da Câmara. Será assinada por todos os vogais da comissão. O que a mesma Augusta senhora manda pela secretário de estado dos negócios do reino participar ao governador civil de Viana para seu conhecimento, e para que, expedindo, nesta conformidade, as convenientes ordens às câmaras municipais do distrito a seu cargo, fiscalize a execução dela por intervenção dos administradores respectivos”.

Palácio das Necessidades, 8 de Novembro de 1847.
António de Azevedo Melo e Carvalho.

(Idênticas a todos os governadores civis).

Hoje podemos ver o alcance de tal documento para os vindouros. Poderíamos saber como foram os remédios para muitos males, em relação à crise do comércio, na indústria, na agricultura, na guerra, doenças nos animais e vegetais e o remédio que lhes foi aplicado.

Claro que ninguém ligou patavina à portaria, e hoje pouco ou nada se sabe sobre as vivências dos nossos antepassados. 

No concelho de Penafiel apenas se registou a moléstia dos castanheiros nas margens do Rio Sousa.

Como estamos num sítio chamado Portugal, ontem como hoje, as coisas não são para levar a sério.

- Foi pena!... Mas que lhe havemos de fazer?