10 janeiro 2018

O DOMINGO DESPORTIVO

O DOMINGO DESPORTIVO



Por volta das 10 horas da manhã ligava-se a telefonia para ouvir Aqui Salgueiros, que era um programa que falava sobre a alma salgueirista do Sport Comércio e Salgueiros.

No final dos anos 50, e princípio dos anos 60 do século passado, aos domingos era costume ir à bola.

No final de almoço, preparava a bandeira vermelha e preta, e lá ia pela mão do meu pai apoiar o Futebol Clube de Penafiel.


Nessa altura conhecia os jogadores todos pelo nome, já que muitos deles eram cá da terra.


Tal como hoje havia os que levavam um dicionário de palavrãos para lançarem ao homem do apito e aos bandeirinhas seus auxiliares.


Mas quem vê estas fotos de Antony Guimarães, aos domingos era uma autêntica romaria de povo que enchia o campo de futebol, sem qualquer comparação com a desertificação que se nota nos dias que correm, com as bancadas cheias de lugar vazios.

Talvez naquele tempo a cidade e o concelho se identificassem mais com o clube, do que hoje.

Quando ganhávamos à rasca, lá se dizia que a vitória tinha sido suada, mas merecida, mas se perdíamos, a culpa era do árbitro e nunca das nossas fraquezas, mas quando a vitória era por muitos golos, lá saía a expressão: demos-lhe uma cabazada do caraças e ganhamos sem espinhas sendo estes dois dizeres equivalentes ao agora “limpinho, limpinho” de Jorge Jesus.



Era uma maravilha ver o Silva Pereira a jogar, trazendo magia ao futebol com as suas fintar, e a marcar golos de todas as maneiras e feitios.


Quem assistiu ao célebre jogo da subida à 2.ª Divisão Nacional no ano de 1965, em que o Penafiel derrotou o Rio Ave por 7-0, tendo o Silva Pereira marcado 4 golos, não mais esqueceu estes noventa minutos de sonho.

No final do jogo regressávamos a casa.

Se a vitória nos tinha sorrido, lá trazia a bandeira rubro negra a sobrevoar ao vento, mas se o jogo tinha dado para o torto a mesma vinha enrolado debaixo do braço, e vínhamos com a beiça.


Enquanto eu ia para casa, meu pai ia analisar o jogo com os amigos na Miquinhas da Sobreira. Aí as vitórias eram festejadas com copos de três ou esqueciam-se as derrotas com a mesma receita.

O domingo desportivo não acabava aqui.


No final da janta, lá íamos comprar o Norte Desportivo, que era um jornal vindo do Porto, que trazia os resultados dos jogos de todos os escalões e as respectivas classificações.


Se naquele tempo havia um casamento perfeito entre o clube e a cidade, nos dias de hoje, sem se saber muito bem as razões do divórcio entre ambos, é por mais que evidente este facto consumado.

Mas não pensem que este desinteresse pela ida à bola apenas se verifica na nossa terra.


Basta ver os resumos televisivos para ficarmos com a sensação, que a maioria dos estádios, não passam de casas de lugares vazios, onde os clubes não têm chama para atrair mais gente, que lhe dê a alma do antigamente.