03 maio 2018

COISAS EM VIAS DE EXTINÇÃO

COISAS EM VIAS DE EXTINÇÃO



Quando entrei no mundo do trabalho, os empregados eram conhecidos pelo seu nome e quanto muito adicionavam-lhe algum apelido familiar, da terra ou outra coisa qualquer.

Para além do local de trabalho convivíamos nos cafés, íamos à bola, festejávamos anos, fazíamos excursões, etc..

Com o decorrer do tempo, dei por mim a passar de empregado a colaborador, e em vez do nome passei a ser um número.

Deixei de ter rosto e passei a ser um algarismo e como tal podendo ser subtraído a qualquer momento, embora sempre a vestir a camisola da empresa, mas por mais que eu me esforçasse, o certo e sabido é que já não tinha alma nem nome próprio.

É neste contexto que o mundo gira, tornando-se cada vez mais difícil criar amizades no local de trabalho como antigamente.



Reparem bem nesta homenagem prestada ao ilustre chefe da estação da CP de Novelas – Penafiel, Sr. Amadeu Alves da Silva, no dia 22 de Janeiro de 1935.

Em virtude de ontem (segunda-feira, 21 de Janeiro de 1935), o sr. Amadeu Alves da Silva, ter deixado de chefiar a estação ferroviária desta cidade, por ter de seguir no dia 23 para Lisboa a fim de fazer provas para inspector de fiscalização, foi-lhe oferecido na tarde de terça feira dia 22, pelos funcionários da estação, um artístico relógio de mesa e um tinteiro de prata seguido de um porto de honra ao qual assistiram não só todos os funcionários da estação como grande número de pessoas de Novelas e serviu para o fiel Monteiro, num burilado discurso, pôr em foco as altas qualidades do Sr. Amadeu Alves da Silva, quer como homem quer como funcionário honesto, zeloso, correcto e inteligente.

O homenageado agradeceu visivelmente comovido e afirmou a todos os seus antigos subordinados a sua grande estima e amizade, pois neles sempre encontrara a maior lealdade e os mais activos e inteligentes cooperadores durante os oito anos que chefiou a estação de Penafiel, despedindo-se de todos com a maior saudade. 

 

Se o sonho comanda a vida e o mundo pula e avança como diz o poeta, com estas coisas em vias de extinção, facilmente podemos concluir que nem sempre pula e avança para o lado certo da vida.